Por Júlio Roldão*
A segunda edição aumentada de “Hiroxima Antologia de Poemas”, edição apresentada na sexta-feira 13 de Maio de 2022 na Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto, em sessão pública promovida pela Âncora Editora e pelo Conselho Português para a Paz e Cooperação, esta aumentada antologia de poemas pela paz, reeditada mais de meio século depois da primeira edição, convoca o público da Poesia para um debate de novo necessário.
Vivemos num tempo, recorde-se, em que pela primeira vez na história do planeta Terra há quem, com poder armamentista para tal, fale na possibilidade de desencadear uma guerra nuclear, numa ameaça global que é incompreensível perante a memória do que aconteceu em Agosto de 1945 nas cidades de Hiroxima e de Nagasaki, quando foram lançadas, sem aviso prévio, as duas únicas bombas atómicas até agora utilizadas contra populações.
Ainda a propósito da apresentação daquela antologia poética, parece-me oportuno convocar o poeta italiano Nanni Balestrini, de quem Alberto Pimenta traduziu para o Português o poema “pequeno louvor do público da poesia”. Cito, pois, Balestrini para dizer que “cá estamos nós outra vez // sentados em frente do público da poesia // sentado em frente de nós ameaçador // fitando-nos e esperando a poesia”. Na verdade, acrescente-se, o mesmo Balestrini reconhece que “(…) o público da poesia não é ameaçador (…) // pelo contrário é atencioso generoso atento // prudente interessado devotado // ávido mirífico um pouco inibido //.(…) o público da poesia é bonito altaneiro insaciável temerário (…)”.
Talvez falte Poesia nos jornais e em todos os media. Poesia capaz de mobilizar leitores, ouvintes, telespectadores e cibernautas. No mesmo dia 13 de Maio já aqui referido, alguém presente no episódio da série televisiva “Em Casa da Amália”, nesse dia emitido na RTP1, disse que a média diária de tempo de escuta de uma estação de rádio que praticamente só emite fado é três vezes superior à média de tempo de escuta das rádios generalistas. Talvez falte mesmo Poesia aos nossos debates e na mobilização para os nossos combates.
Pela Paz, sempre. Contra a Guerra. Contra todas as desinformações. Pela comunicação clara e completa. Pelo reconhecimento sereno de tudo o que verdadeiramente nos deve preocupar e nos pode unir num colectivo cujo denominador comum pode muito bem ser apenas o gosto pela Poesia.
- Jornalista desde 1977