Por Júlio Roldão *
Aquela balada de Manuel Freire a garantir que “não há machado que corte a raiz ao pensamento”, harmonizando uns escritos de Carlos Oliveira que nos deram esperança nos anos mais desesperados, a certeza cantada nessa balada, afinal, pode estar em causa.
Há, ao que tudo parece, ferramentas capazes de “semear discórdias, instigar narrativas de conflitos, polarizar opiniões, radicalizar grupos” num novo quadro de guerra, a chamada guerra cognitiva, desencadeada para motivar as pessoas a agir de forma a poder perturbar e fragmentar qualquer sociedade coesa.
Esta nova dimensão da guerra foi classificada em Outubro passado por uma oficial do exército canadiano, durante uma conferência realizada, sob os auspícios da NATO, no Canadá, como sendo “a forma mais avançada de manipulação vista até hoje”. A oficial canadiana, citada em artigos jornalísticos autenticados como tal, é Marie-Pierre Raymond.
Afinal, a certeza de que não há machado que corte a raiz ao pensamento começa a vacilar. Pelo menos naquele quadro da “guerra cognitiva”, uma experiência militar que parece visar a forma como as pessoas pensam, com meios muito mais eficazes do que a simples difusão de “fake news” ou, como prefiro, do que a disseminação de mentiras e boatos em acções de desinformação generalizada.
Coincidentemente, o Canadá, país da NATO, a Norte dos Estados Unidos da América, onde este tema da “guerra cognitiva” começou a ser debatido mais abertamente, o Canadá vive momentos particularmente sensíveis com uma contestação interna às medidas de contenção da pandemia a provocar constrangimentos das cidades e nas vias perturbadas pelas acções dos camionistas nessa contestação.
A potencial fragmentação que tais acções possam gerar na sociedade canadiana já determinou que o Governo do Canadá tenha decretado o Estado de Emergência em todo o país. Com todas as consequências políticas e sociais de um tal decreto, mesmo que seja pontualmente aplicado, no tempo e no espaço, como foi referido pelo primeiro ministro canadiano Justin Trudeau.
Tudo isto podemos e devemos equacionar nestes dias que alguns anunciam como sendo as vésperas de uma guerra com ambições globais. Pelo menos enquanto não aparecer o tal machado que corta a raiz ao pensamento.
