Um programa de luta contra a iliteracia mediática, manipulação jornalística e desinformação

Falando de falsas (ou fake) Conferências de Imprensa

Por Júlio Roldão *

Quem, em nome individual ou em nome de uma instituição, convoca uma Conferência de Imprensa “sem direito a perguntas” pretende apenas plantar uma floresta de microfones e outras antenas para ampliar tudo o que quer divulgar sem escrutínio. Isto também é um acto de desinformação.


Outros que se julgam muito sérios convocam conferências de imprensa com direito a perguntas mas enchem a sala de apaniguados prontos a vaiar os jornalistas, num inqualificável acto de intimidação, sempre que estes ousem formular perguntas incómodas.


Isto sem esquecer o ambíguo papel de alguns assessores de Imprensa, no limite capazes de pontapear um jornalista que quisesse fotografar, num local público, um político então sob os holofotes mediáticos. Isso aconteceu em Portugal e o assessor desculpou-se dizendo não saber o que lhe tinha passado pela cabeça.


Vários Poderes ainda têm a tentação de olhar para os jornalistas com aquela condescendência magnânima que se desnudava sem pudor quando os jornalistas, tidos como homens de mão, eram chamados de “os rapazes dos jornais”. Ao tempo, havia poucas mulheres na profissão… Hoje, esta triste expressão seria muito mais pejorativa.


Quero acreditar que já ninguém será tão grosseiro a esse ponto, mas esta minha convicção não é muito segura. Na verdade, os jornalistas continuam a ser desrespeitados pelo menos quando, por exemplo, são convocados para conferências de imprensa sem direito a perguntas.


Negar a um jornalista em serviço o direito a fazer perguntas é impedi-lo de exercer a profissão. Fazer perguntas é uma das actividades centrais do jornalismo… Não há jornalistas mudos. Nem cegos, nem surdos. Nem há, para esta profissão, perguntas incómodas. O que há muito são potenciais respostas incómodas se as respostas forem verdadeiras.

Em alternativa, mente-se, desinforma-se, lança-se boatos. Descredibiliza-se, às vezes ao ponto de o matar, profissionalmente, o mensageiro que não mente e provoca a resposta incómoda. Entre nós, só em sentido figurado, mas noutras paragens deste mundo globalizado em sentido real. Tudo isto é desinformação que urge combater sem tréguas. 


Desinformação que urge combater quando a verdade conta.

Júlio Roldão, jornalista desde 1977, nasceu no Porto em 1953, estudou em Coimbra, onde passou, nos anos 70, pelo Teatro dos Estudantes e pelo Círculo de Artes Plásticas, tendo, em 1984, regressado ao Porto, onde vive.