Por Júlio Roldão *
O permanente e difícil combate à iliteracia mediática, à manipulação jornalística e à desinformação é uma tarefa que visa contribuir para uma sociedade mais livre, informada e democrática e para credibilizar a Imprensa muito prejudicada por poderosos meios de comunicação que exercem, ilicitamente, uma actividade que pretende passar por jornalismo.
O exercício ilícito do jornalismo é uma potencial pandemia tão difícil de erradicar quão difícil é identificar tal exercício, muitas vezes disfarçado de bom jornalismo e ou, por exemplo, de uma espécie de iniciativa cidadã apresentada como consequência inevitável do progresso que as novas tecnologias da informação proporcionam.
A facilidade com que hoje é possível distribuir textos escritos, imagens e sons (estes dois últimos até em tempo real) favorece esta explosão comunicacional que nos envolve em permanência e favorece até o aparecimento de informação não jornalística apresentada como jornalística.
O jornalismo é uma actividade que difunde novidades verdadeiras de interesse colectivo para a comunidade a que se destina sob várias formas jornalísticas de que a notícia, a reportagem e as entrevistas serão as mais evidentes. Neste desenho desta complexa profissão, um dos elementos diferenciadores chave reside no interesse colectivo.
A mentira não é o único problema que pode contaminar o jornalismo. O interesse particular, por oposição ao colectivo, é um aspecto também fundamental nesta matéria tão problemática. É o interesse colectivo da informação que deve determinar a respectiva entrada na agenda mediática. Este é aliás um dos pontos que justifica que o exercício do jornalismo seja tão escrutinado.
Não é por acaso que muitas informações comerciais tentam fazer-se passar, tanto quanto a legislação o permita, por informações jornalísticas. As informações comerciais são legítimas, mas são essencialmente informações que interessam a quem as promove e não a um universo colectivo – como, por exemplo, o público de uma publicação jornalística.
Na clara e rigorosa separação entre o que é propaganda (comercial e não só) e o que é jornalismo, está o limite do Poder de quem realmente tenha capacidade de determinar o que entra ou não entra nas chamadas agendas mediáticas.
*Jornalista desde 1977